quarta-feira, 29 de agosto de 2012

través


través - direcção oblíqua ou diagonal; esguelha, soslaio, obliquidade, viés / parte das fortificações que está entre a cortina e o baluarte; flanco / direcção perpendicular à linha proa-popa da embarcação.

"Era como se estivesse num barco a navegar com mar bravo. Era como se água se precipitasse sobre as paredes de madeira, como se do fundo do corredor surgisse um rugido de água a mover-se em torrentes, como se o corredor oscilasse de través e como se as pessoas que estavam à espera fossem afundadas e erguidas dos dois lados.".

Franz Kafka - O Processo

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

libelo



libelo 
- dedução apresentada pelas partes a um magistrado antes do início do processo, na qual se encontra o essencial da acusação ou da defesa / exposição articulada do que se pretende provar contra um réu  / escrito, geralmente curto, difamatório, injurioso ou satírico; panfleto.

"Tudo isto era lamentável, mas não totalmente sem justificação, K. que não se esquecesse que o processo não era público, pode, caso o tribunal o entenda necessário, tornar-se público, porém, a lei não prescreve que seja público. Em consequência disso, também as peças do processo, sobretudo o libelo, são inacessíveis ao acusado e à sua defesa, daí, não se saber em geral, ou pelo menos exactamente, o que se deve contestar no primeiro requerimento, e este só casualmente pode conter algo que tenha importância para o caso".

Franz Kafka - O Processo

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

padieira


padieira - verga superior de janela ou porta, especialmente em madeira.

"Mas a sua silenciosa imobilidade devia fazer-se notar e, de facto, tanto a rapariga como o oficial de diligências observavam-se como se nele estivesse iminente uma qualquer grande transformação que não queriam perder. E à entrada da porta estava o homem que K. notara anteriormente ao longe, apoiava-se na padieira da porta baixa, balançando-se um pouco nas pontas dos pés como se fosse um espectador impaciente".

Franz Kafka - O Processo

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

comitente


comitente - que ou quem incube alguém, mediante o pagamento de uma comissão, de executar certos actos em seu nome e sob sua direcção e responsabilidade / que ou aquele que, por sua conta, consigna mercadorias a outrem / constituinte.

"K. cravou os olhos no inspector. Estava então a receber lições de um indivíduo talvez mais novo que ele? Estava a ser repreendido por ter sido sincero? E não tinha direito a saber nada sobre as razões da sua prisão e do respectivo comitente?"

Franz Kafka - O Processo

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

peralvilho


peralvilho - diz-se de indivíduo afectado nas maneiras e no trajar / peralta, janota, casquilho.

"O senhor sabe que eu não tenho educação nem boas maneiras e que desprezo a atitude peralvilha oca porque acabei por aprender, por amarga experiência, como é enganosa a aparência e que, sob as flores, se esconde por vezes uma cobra."

Fiódor Dostoiévski - Romance em Nove Cartas (in Coração Fraco e Outras Histórias)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

bonomia


bonomia - característica ou procedimento próprio de quem é bom, simples, crédulo, pachorrento ou fleumático / qualidade própria de pessoa sem afetação e sem malícia.

"Sei que a sua bonomia e o seu carácter aberto não permitirão que a dúvida permaneça no seu coração e que, finalmente, será o senhor o primeiro a estender a mão ao seu amigo. O senhor está enganado, Ivan Petróvich, está profundamente enganado!"

Fiódor Dostoiévski - Romance em Nove Cartas (in Coração Fraco e Outras Histórias)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

pejo


pejo - sentimento de vergonha, pudor / timidez, acanhamento / estorvo, impedimento, obstáculo.

"Meu caríssimo e estimadíssimo amigo Ivan Petróvitch:

A sua carta deixou-me triste até ao fundo da alma. O senhor não teve pejo, meu caro mas injusto amigo, de tratar desta maneira o seu mais benevolente simpatizante. Como é possível ser tão apressado, não esclarecer nada e, por fim, insultar-me com suspeitas tão ofensivas?! Pela minha parte, vou responder de imediato às suas acusações."

Fiódor Dostoiévski - Romance em Nove Cartas (in Coração Fraco e Outras Histórias)

sábado, 28 de julho de 2012

quico



quico 
- chapéu pequeno e ridículo.

"Ele entrou a correr.
O mensageiro da vitória está sem fôlego:
«Chega.
Vamos para a alegria,
para o amor!
Para o diabo os tristes!
Acabou o desalento!»
Que aspecto surpreendente!
quico da praxe sobre a nuca.
As calças dentadas - impecáveis.
A gabardina abotoada até ao pescoço.
Os óculos -
ordeno aos dois sóis para arderem
no fundo de uns olhos
irresistivelmente descarados.
Mais autênticos que os cartazes
nas altitudes dos estrados.
A quantas brilhantes tolices tivesteis direito!
Haverá um só que não tenha orgulho em gritar:
«Maiakovski!
Bravo!
Maiakovski!
Isso é bom!»"

Vladimir Maiakovski - O Dia Seguinte

zurzir



zurzir 
- açoitar, chicotear, vergastar / dar golpes violentos, bater em, surrar / causar dor ou sofrimento a, afligir, maltratar / afugentar, espantar / castigar, punir / repreender com severidade, criticar acerbamente.

"Exibirei a série de cores da minha imaginação como a cauda de um pavão,
entregarei a minha alma a um enxame de rimas desconhecidas.
Quero ainda ouvir nas colunas dos jornais rezingar
aqueles
que com o focinho zurzem as raízes
do carvalho que os alimenta."

Vladimir Maiakovski - Insignificâncias

domingo, 12 de fevereiro de 2012

mitene


mitene- luva feminina que deixa os dedos descobertos, cobrindo apenas os metacarpos; meia-luva; punhete.

"E em redor, formando círculo, as damas, com vestidos de ramagens, cobertas de plumas, as mangas estreitas terminadas num fofo de rendas, mitenes de retroz preto cheias da cintilação dos anéis, tinham sorrisos ternos, cochichos, doces murmurações, risinhos, e um brando palpitar de leques recamados de lantejoulas."

Eça de Queirós - Singularidades de uma rapariga loura (in Contos)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

plumitivo


plumitivo- escritor ou jornalista sem méritos, incipiente.

"Julgando-me arruinado, todos aqueles, que a minha opulência humilhara, cobriam-me de ofensas, como se alastra de lixo uma estátua derrubada de príncipe decaído. Os jornais, num triunfo de ironia, achincalharam a minha miséria. A aristocracia, que balbuciara adulações aos pés do Nababo, ordenava agora aos seus cocheiros que atropelassem nas ruas o corpo encolhido do plumitivo de Secretaria."

Eça de Queirós - O Mandarim

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

alcantil


alcantil- rochedo que apresenta um forte declive; rocha escarpada, talhada a pique / ponto mais alto de uma elevação; cume; píncaro / lugar escarpado, íngreme; precipício; despenhadeiro

"Trouxe-o d'um ventre: não fiz mais do que escrever...
Lede-o e vereis surgir do poente as idas mágoas,
Como quem vê o sol sumir-se, pelas águas,
E sobe aos alcantis para o tornar a ver!"

António Nobre - Só

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

verbosidade


verbosidade- qualidade do que é verboso, que fala muito ou tem grande facilidade para usar as palavras; grande fluência oral; loquacidade.

"O bom Meriskoff lá vai sofrendo do fígado, mas a dor não lhe altera o critério filosófico nem a sábia verbosidade..."

Eça de Queirós - O Mandarim

sábado, 4 de fevereiro de 2012

pagode


pagode- templo ou monumento memorial de alguns povos asiáticos, geralmente em forma de torre, com diversos andares e telhados a cada andar terminados frequentemente em pontas recurvas para cima (termo também usado para mesquitas e varelas budistas) / imagem de um deus ou santo asiático

/ divertimento ruidoso; pândega; baile popular; reunião de pessoas que tocam e cantam o pagode / variedade de samba nascida no Rio de Janeiro na década de 1970

/ o que é feito ou dito com a intenção de provocar riso acerca de alguém ou de algo; zombaria; caçoada; troça.

"E na imensidão do seu recinto aglomeram-se confusamente verduras de bosques, lagos artificiais, canais cintilantes como aço, pontes de mármores, terrenos alastrados de ruínas, telhados envernizados reluzindo ao sol; por toda a parte são pagodes heráldicos, brancos terraços de templos, arcos triunfais, milhares de quiosques saindo d'entre as folhagens dos jardins".

Eça de Queirós - O Mandarim

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

garço e aguilhada


garço- esverdeado ou verde-azulado (diz-se dos olhos); gázeo.

aguilhada- vara comprida com ferrão na ponta, usada para tanger os bois, guiando-os ou estimulando-os no trabalho / antiga medida agrária correspondente aprox. a 4 metros quadrados / vértebras do animal ainda não descarnadas / as pernas.

"Oh, que donairosa, linda boieirinha!
Grandes olhos garços, sorrisinho arisco...
D'aguilhada em punho lépida caminha,
Com a graça aérea d'ave ribeirinha,
Verdilhão, arvéola, toutinegra ou pisco."

Guerra Junqueiro - Os Simples

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

donairoso e boeirinha


donairoso-
que tem ou apresenta donaire; donoso; garboso; gentil; elegante.

boieirinha- mulher que cuida dos bois ou os guia.

"Oh, que donairosa, linda boieirinha!
Grandes olhos garços, sorrisinho arisco...
D'aguilhada em punho lépida caminha,
Com a graça aérea d'ave ribeirinha,
Verdilhão, arvéola, toutinegra ou pisco."

Guerra Junqueiro - Os Simples

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

blague


blague -
observação ou relato que diverte, faz rir ou evidencia sentido de humor; dito espirituoso; jogo de palavras; graça, piada, pilhéria; embuste.


"São aspectos inferiores da chamada blague ou bluff surrealista. Tudo o que no surrealismo é provocação ou ofensa directa degenera em conforme gracinha logo que perde de vista os verdadeiros objectivos dessa denúncia. Espantar o burguês - que ociosa manobra, que infantilidade tocante!"

Luiz Pacheco - Cesariny ou do Picto-abjeccionismo